Na vida muitas vezes preferimos
não perceber as diferenças que vão nos deixar desconfortáveis e incomodados.
Essa sensação nos fará, como de hábito, buscar soluções e mudar nossas
prioridades.
Você já percebeu quantos anos seu
filho(a) realmente tem? Já se assustou ao perceber os traços de amadurecimento
nos momentos mais inoportunos? Como reagiu ao saber que sua filha(o) está
namorando? Com que idade seu filho(a) passou a ir sozinho para escola? Qual foi
sua sensação? Quando você achou que ele(a) estava pronto para ir até a padaria?
Quando ele(a) andou em transporte público realmente sem acompanhante? Ou no
shopping? No mercado? Ao centro da cidade?
Como você reage ao perceber que
seu filho(a) deseja muito alguma coisa? E se for cara, você apela para o
financiamento?
Quando seu filho(a) levou as
primeiras pancadas da vida? E as dores do amor? Como você reagiu? Você já
discordou de seu cônjuge sobre a criação dos seus filhos? Como você segura seu
filho adolescente quando ele quer agir como adulto? Se o namorado(a) maltratar
seu filho(a) o que você gostaria de fazer? O que realmente faz? Com que idade
você acredita que pode deixar seu filho(a) decidir sua própria vida, passeios,
horários? Quando não está na escola seu filho tem alguma atividade laborativa
para se sustentar? O que ele faz nestas horas?
Nas suas respostas estão as
diferenças que não querem calar e precisam ser mudadas.
Um menor de rua, problema que nos
apoquenta ao ponto de acreditarmos que a idade penal deve ser mudada, pode
estar nas ruas desde a mais tenra idade. A partir dos 7 anos ele já é um
elemento de um bando ou grupo que cuida dele defendendo-o de tudo e todos.
Aos 9 anos ele já conhece a
reação da sociedade se pede um lanche. É nessa idade que seu filho(a) pede um
videogame – e ganha! Aos 10 conhece o centro do Rio, ou Copacabana, ou Ipanema,
melhor que a palma de sua mão. Sabe se defender das agressões verbais, físicas
e sociais. Tem todos os horários livre, não porque quer, por não ter opções:
não tem aulas, nem clubes, nem atividades extracurriculares, não tem curso de
inglês nem está aprendendo a tocar violino. Mas sabe andar nas ruas, usar
transporte público e não têm horários nem satisfações a dar, pois seus pais não
podem protegê-los como você faz com o seu filho(a).
Na adolescência, enquanto seus
filhos questionam valores como maior flexibilidade de horários, maior valor de
mesada, relação sensual ou sexual com seus pares, qual será seu próximo
celular, tablete, ou notebook, os menores infratores precisam se defender da
sociedade mesquinha, medíocre e egoísta tão transparente para eles – uma sociedade
que precisa jogá-los para baixo do tapete por que não é bonito para inglês ver,
mas é real.
Quanto mais eficiente for, mais
poder adquire em sua sociedade, mais parecido com seu filho(a) conseguem ser.
Eles – os mais eficientes – usam as mesmas roupas e tênis, alguns já estão
motorizados e conquistam as menininhas da sua sociedade, tão diferente da nossa
e até sua filha(a) pode acha-lo(a) um(a) cafajeste sedutor(a).
A solução, todos sabemos. Dar a
todas as crianças as mesmas oportunidades, escola em tempo integral, com
qualidade, quantidade e eficiência. Dar condições de sustentabilidade e moradia
a família destas crianças para que elas cresçam com perspectivas – elas nada
têm, nem o que perder a não ser sua miserável vida – mas têm consciência disso
e muitos “meliantes” dizem que pelo menos enquanto vida tiverem podem dar mais
conforto a suas mães. Com os pais nem nossos filhos(as) se preocupam.
Eu sei, sei mesmo. Isso teria um
alto custo para a sociedade. Mas já estamos pagando estes custos de roubo em
rouba, assalto em assalto e com a nossa tranquilidade já que nossa consciência muitas
vezes prefere não perceber as diferenças.